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Que tiro foi esse?! Segurança Pública


Por Lisandro Frederico

Não é de hoje que defendo mudanças drásticas no sistema de segurança pública do Brasil. É preciso discutir amplamente a eficácia deste sistema, dos baixos salários a falta de estrutura, que não consegue colocar e manter a ordem no País. Não da forma como precisamos e como deveria ser.

Há, ainda, e infelizmente, uma descrença quanto às corporações, aliada a uma falta de valorização do policial (seja militar ou civil) e a já sabida organização da criminalidade. Toda esta situação flerta com o caos, com direito à ausência de tolerância por parte, inclusive, da própria população, e de regras claras. O “olho por olho, dente por dente”, então, chega imponente travestido de conservadorismo e de tomada de providências.

Na manhã de um sábado, uma policial de folga atirou por três vezes contra um homem armado que ameaçou invadir a escola onde a filha da PM estuda e onde as duas, com outras mulheres e seus rebentos, participariam de uma festa do Dia das Mães. Era uma manhã com muito sol e gente por todo o lado, já que ali, onde a instituição de ensino funciona, é área central de Suzano, município da Região Metropolitana do Estado de São Paulo.

No dia seguinte, no Guarujá, no litoral paulista, um policial, também à paisana, atirou contra um ladrão que tentou assaltar a farmácia onde o PM, por um acaso, estava. Nos dois casos, os criminosos morreram. Até aí, tudo certo para aqueles que defendem o ponto de vista: “Bandido bom é bandido morto”. Fato é que em São Paulo, em plena segunda-feira, o tiro saiu pela culatra.

Um delegado, que a exemplo dos policiais de Suzano e do Guarujá foi treinado para combater o crime, teve sua casa invadida por dois meliantes nas primeiras horas da manhã. Agente da Polícia Federal, ele não apenas agiu conforme o ofício lhe habilitou. Ele reagiu em defesa de sua família.

O delegado de 55 anos atirou contra os dois homens, porém, também foi atingindo, fatalmente. Três disparos acabaram com uma carreira, com uma história, com o futuro e deixaram órfãos mulher e filhos.     Em suma, o “Faroeste Caboclo” que deu certo no sábado e no domingo, em Suzano e no Guarujá, não terminou bem na maior cidade da América Latina.

Dados interessantes: A tragédia se deu a poucos metros do Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo paulista e responsável pelas políticas públicas que deveriam garantir a segurança do cidadão. Não menos importante: Um dos assaltantes, com passagem por cinco roubos, estava livre da prisão por força do induto de Dia das Mães.

Em paralelo, a policial que matou um bandido na frente da filha e de outras crianças, justamente para evitar uma tragédia maior, foi homenageada por autoridades. O vídeo da ação, garantido pela câmera de monitoramento do próprio colégio, uma vez que Suzano não conta com recurso e também não busca apoio para a instalação de câmeras de vídeo-monitoramento, alcançou o mundo. Não faltaram flores e elogios, mas não li, ouvi ou assisti um só anúncio relacionado a práticas que possam, de fato, combater o crime preventivamente e ostensivamente.

Falta, ao meu ver, também, a convocação do bom senso perante às saidinhas das penitenciárias aos feriados e questionamentos acerca do meliante de Suzano, que já havia roubado, matado e ocultado cadáveres, segundo sua ficha policial, mas, que, mesmo assim, estava livre, assaltando a luz do sol de outono.

Não dá, é claro, para fazer pouco da coragem dos policiais, que, de forma tão solitária, atuaram e arriscaram suas vidas. Mas, não é isso que queremos, nem acho que merecemos – um bang-bang institucionalizado, um tal de “cada um por si e Deus por todos”, enquanto alguns criminosos, mantidos com o dinheiro do contribuinte, ainda se beneficiam de brechas da lei.

Para que não precisemos depender da bravura de policiais de folga, da sorte e de vários outros fatores para termos tranquilidade, é necessário, de maneira urgente, que se imprima mudanças neste sistema.       

E, isso ninguém discute. Mães, afinal, não precisam matar na frente dos filhos, nem pais morrerem no chão da sala. Não há garantias nas balizas da barbárie. Que o Estado cumpra seu papel, que não se resume à entrega de flores e de posts nas redes sociais. Só se ocupa um espaço quando ele está vazio, e a criminalidade sabe bem disso.

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