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Carnaval o ano inteiro


Por Lisandro Frederico


Carnaval… Carnaval. Um período de festa popular em que poderíamos esquecer as mazelas do dia-dia. Distração calculada para uns e uma breve fuga da realidade para outros? Difícil saber quem tem razão. Fato é que são alguns poucos dias em que o Rei Momo e todos os seus súditos deveriam se preocupar apenas com os Pierrôs; as Colombinas; os “balancês, balancês”; com “aquilo que você pensa que é água”; e com “as fitas, as cores, os barulhos… que passam de raspão”, como escreveu Carlos Drummond de Andrade. Nada, absolutamente nada além disso.

Mas mesmo

 com a chave da cidade na mão de vossa majestade, o rei da zorra, o que se viu nas passarelas e nas avenidas foram sambas-enredo e marchinhas carnavalescas carregados com versos de insatisfação e de revolta de uma população festeira, mas que não aguenta mais pedir para sobrar “um dinheiro aí, e não levar não”, porque este dinheiro está sendo desviado ou mal administrado. 

Talvez seja mesmo pela escassez de canais para a expressão da revolta do desencanto do brasileiro com o País, como bem lembrou a professora e pesquisadora Rachel Valença, mas o que vimos foram as agremiações, em plena rede nacional d

e TV, escancararem o samba atravessado da maioria dos políticos, que ignora a desigualdade social brasileira para se preocupar apenas com a manutenção no Poder. Custe o que custar, o importante para muitos dos que comandam este País é colocar o bloco na rua e sair gritando “Ô abre alas que eu quero passar”, mesmo que passe por cima das famílias, que cada dia mais precisam dançar ritmos diferentes para pagar a quantidade – e cada vez mais caros – de impostos.  

A Beija Flor, campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, cantou: “Oh pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais! Você que não soube cuidar”. E mais. A escola mostrou em dos seus carros-alegóricos uma cena que, infelizmente, não saiu da cabeça criativa de nenhum carnavalesco, mas da dura realidade: Estudantes dentro da sala de aula sendo baleados. 

Mas nã

o foram apenas as escolas de samba que desfilaram a revolta com seus gigantescos carros-alegóricos ou as muito bem ensaiadas comissões de frente. Os protestos individuais do cidadão comum, com suas fantasias burlescas, foram tão ou mais marcantes. E são esses cidadãos que devem formar a “turma do funil, onde ninguém dorme no ponto”.

O grito de Carnaval dest

e ano ecoou a reprovação popular com este sistema de muitas notas zero. Nem as serpentinas e as rainhas de bateria conseguiram, desta vez, espantar a preocupação com a evolução que tem sido vista em muitas da alegorias do Brasil. E esta postura, alinhada com o ritmo da bateria tocada pela grande maioria dos brasileiros, merece muitas notas dez.

Enfim, seja com puxadores de samba mais à direita ou mais à esquerda, os foliões precisam manter, durante o ano inteiro, este Carnaval de protesto, que não mais aceita “o cativeiro social”, como bem lembrou outra escola de samba carioca, a Paraíso do Tuiuti.

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